A Pesca Do Carapau em Benguela satisfaz pescadores

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011 |

Conservação do Peixe Carapau em Benguela
O director provincial de Benguela das Pescas, Carlos Martinó, afirmou que o período de defeso na pesca do carapau foi um processo inevitável, que permitiu o crescimento da espécie na orla marítima nacional. "Agora que está levantada a proibição da pesca do carapau, o processo de captura deverá obedecer aos critérios impostos pelo Executivo para a preservação da espécie", disse.
O levantamento da proibição, segundo Carlos Martinó, vai "contribuir para a redução da fome e da pobreza das populações que têm na espécie pelágica uma das principais bases da sua alimentação".
Segundo o responsável, ainda existem algumas restrições que incidem sobre a pesca do chamado Carapau do Cunene ou Carapau Negro. "A captura desta espécie só poderá ser feita durante os meses de Janeiro, Fevereiro e Março. Posteriormente, terá que se obedecer a uma pausa, para a pesca ser retomada no último trimestre do ano".
As restrições específicas à pesca do carapau do Cunene estão assentes num estudo que revela que os cardumes ainda não estão em boas condições biológicas para serem capturados em quantidades industriais.
Quanto à espécie denominada Carapau do Cabo a biomassa é satisfatória, estando, por isso, os armadores autorizados a fazer a sua pesca ao longo de todo o ano, devendo respeitar apenas a quota de 30 toneladas imposta pelas autoridades. 
O director provincial das Pescas considerou que os interesses dos industriais da pesca ficaram salvaguardados com o período da interdição, uma vez que se estava a registar uma rotura da biomassa disponível. "A partir de agora podem reatar a pesca, mas obedecendo ao programa imposto para permitir a reprodução e o crescimento das espécies".
Carlos Martinó está muito optimista. "Os pescadores nacionais vão poder pescar mais carapau, embora haja quotas impostas para os pelágicos. Temos sardinha e outras espécies na costa atlântica angolana, que é bastante rica. Vamos racionalizar a pesca do carapau, para aumentar a capacidade e fazer prevalecer o peso das espécies", disse.
A pesca é um importante sector de actividade económica em Angola. A abundância de recursos atrai investidores nacionais e estrangeiros. A pressão da pesca tem levado à flutuação da existência das principais pescarias de interesse comercial. A política de desenvolvimento do sector das pescas define estratégias de recuperação dos principais recursos pesqueiros, com aplicação de planos de gestão que incluem a limitação das capturas e do esforço de pesca e o estabelecimento de áreas de pesca e períodos de veda.
Depois de muita polémica à volta da importação do carapau, por razões relacionadas com a interdição da pesca em águas nacionais, e porque estava em causa o desaparecimento da espécie marinha, o Executivo autorizou, finalmente, a pesca do carapau. É caso para dizer que os angolanos vão poder desfrutar do bom mufete de carapau autóctone.
"Do ponto de vista gastronómico o carapau é um peixe saboroso, com muitos apreciadores. Todos conhecemos o carapau assado com molho, ou frito de escabeche. É, de facto, uma delícia, é um bom manjar", afirmou Carlos Martinó, que pelos vistos é um dos muitos apreciadores de carapau.

A liberalização satisfaz

"Estamos satisfeitos com a abertura da pesca do carapau, que é a espécie marinha de maior rentabilidade económica para os armadores associados, por ser muito procurada pela população", disse ao Jornal de Angola o presidente da Associação dos Industriais de Pesca de Benguela, Arnaldo Vasconcelos.
Com o levantamento da interdição da pesca do carapau, os pescadores industriais terão a sua actividade mais animada. Vão poder recuperar os prejuízos decorrentes da proibição.     
"Durante o período de vigência da proibição, tivemos a lamentar o despedimento de empregados. As receitas eram muito baixas e vivemos momentos sombrios. Agora almejam-se bons momentos para a vida piscatória nas nossas águas territoriais", disse Arnaldo Vasconcelos.  
Sempre que se prepara uma saída de pesca, o pensamento do pescador é, em geral, capturar grandes quantidades de peixe, de óptima qualidade. Contudo, há dias que à partida parecem muito promissores, mas acabam por se revelar maus, com a embarcação a regressar ao porto sem peixe.
São necessárias, em terra, estruturas de apoio, para recepção, transformação, processamento e conservação, para que haja boa comercialização do pescado. Muitos armadores não possuem tais estruturas e por vezes o peixe estraga-se. Daí a necessidade das quotas de captura. "Só com o investimento em terra assegurado teremos as premissas asseguradas para se pensar em aumentar a capacidade de captura", reconheceu o líder dos industriais de pesca de Benguela.

No tempo dos barcos à vela


O carapau é uma espécie abundante na costa angolana. É rico em proteínas, menos gordo que a sardinha e muito saboroso. Há diferentes espécies, pertencentes ao mesmo género.
O Carapau do Cunene pode ser capturado pelas traineiras, que são barcos semi-industriais, num processo estático, efectuado por dois barcos de pequeno porte que carregam a bordo uma lancha e um saveiro.
Entre os dois barcos estende-se uma rede e vai-se engodando continuamente o local com uma pasta de sardinha. O carapau é atraído para cima da rede pela luz e pelo engodo.
Hoje os barcos são a motor, com um a rebocar o outro. Mas até há poucos anos a pesca era feita em barcos à vela, equipados com lancha e saveiro. Havia centenas destes graciosos barcos, abertos, sem coberta, velozes com boa aragem, que bolinavam em vento contrário ou deslizavam à popa com velas atravessadas.
Por serem abertos e pequenos, eram muito vulneráveis ao vento e à chuva. A pesca era feita junto à costa e ao longo dela. Como a pesca se faz por atracção luminosa, era uma graça ver a fila de pontos luminosos ao longo da costa. Era como se fosse uma grande cidade iluminada e vista à distância.
Os pescadores partiam para a faina ao fim da tarde, desfraldando as velas brancas, pontiagudas. O espectáculo era grandioso e gracioso.

Actos ilícitos

Actualmente, a pesca ilegal e desordenada tomou conta da zona económica marítima de Angola, por falta de embarcações de fiscalização.
"Benguela tem apenas uma embarcação para a fiscalização do território marítimo. Como é óbvio, este único meio não cobre a extensão territorial. Isso propicia o surgimento de armadores que pescam ilicitamente com barcos de grande porte, os chamados arrastões, que levam toda a fauna marítima, sem descriminação", revelou o director provincial de Benguela das Pescas, Carlos Martinó.
"Para assegurar uma gestão eficaz e sustentável dos recursos pesqueiros, é preciso potenciar o órgão de fiscalização com homens e meios adequados. Só com uma fiscalização feita por embarcações equipadas com tecnologia de ponta veremos reduzidos os elevados índice de pesca ilegal", salientou o responsável das Pescas. 
Segundo ele, "é necessário o reforço da frota de inspecção, fiscalização e vigilância marítima, distribuindo-se os meios ao longo da zona costeira angolana, para que se realize um trabalho rígido contra aqueles que pretendem tirar proveitos ilícitos".

Um vilão chamado arrastão

Um arrastão é um barco de pesca que opera com redes de arrasto, ou seja, redes em forma de saco, que são puxadas a uma velocidade que permite que os peixes, crustáceos ou outro tipo de pescado sejam retidos dentro da malha, com raras hipóteses de fuga.
Os arrastões podem ser relativamente pequenos, com seis ou oito metros de comprimento, podendo operar em parelha, ou seja, dois barcos a puxarem a mesma rede. Podem igualmente ser grandes barcos-fábrica, operando duas ou mais redes ao mesmo tempo. O equipamento principal para esta actividade é um guincho que enrola e desenrola os cabos.
As operações por arrasto podem ser feitas pela borda e pela popa.
O arrasto pela borda exige apenas uma colocação de roldanas no convéns para a ligação dos cabos com os guinchos, mas no arrasto de popa, esta parte do navio tem que estar modificada para a fácil entrada e saída da rede. Nos arrastões maiores a popa pode estar transformada numa rampa.
A pesca de arrasto é muito perigosa para a conservação das espécies piscícolas, dado que o seu uso desregrado pode conduzir à extinção de várias espécies de peixes e crustáceos. Se esse tipo de pesca prosseguir sem regras, a costa marítima angolana terá as espécies das profundezas em extinção antes que sejam descobertas. 

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