Imprudência é a principal causa de morte nas estradas

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011 |

Acidentes de Viação em Benguela
A enorme quantidade de vítimas humanas e materiais resultante dos acidentes rodoviários desafia as actuais políticas do sector
A província de Benguela, no período de 1 a 17 de Janeiro deste ano, registou 59 acidentes de viação, que provocaram a morte de 19 cidadãos. As mortes resultaram de atropelamentos, choques entre veículos e contra obstáculos fixos e viaturas capotadas. Segundo o Comando Provincial da Polícia Nacional, no mesmo período houve um total de 75 feridos, alguns graves, que se encontram a receber tratamento nos cuidados intensivos dos hospitais de Benguela, Lobito, Bocoio e Cubal.          
Em Benguela, o ano de 2010 ficou marcado por uma média de três acidentes por dia, com duas mortes e igual número de feridos. Estes números assustadores ocorreram por desrespeito quase generalizado ao Código de Estrada.
"O consumo excessivo de bebidas alcoólicas esteve na base  da maior parte dos sinistros rodoviários em toda a extensão da província", revelou ao Jornal de Angola o inspector da Polícia de Viação e Trânsito em Benguela, Pinto Caibambo.
No ano passado, a província registou um total de 2.417 acidentes de viação, que provocaram a morte de 412 pessoas e ferimentos em 2.280.
"Alguns feridos acabaram por ficar em situação definitiva de invalidez, outros com sequelas graves, uma situação que podia ser evitada se houvesse prudência durante a condução e travessia dos peões", disse Pinto Caibambo.
O inspector Caibambo fundamentou, para lá do consumo excessivo de álcool, as causas do preocupante surto de acidentes nas estradas de Benguela: "o trânsito tornou-se perigoso, na verdade, devido ao caos existente nas nossas estradas. Aumentou o número de automóveis e motorizadas, a circulação de peões é feita, em muitos casos, de forma desordenada, sem o mínimo respeito pela travessia de uma via nacional ou avenida urbana. O perigo está sempre à espreita".
Segundo o oficial da Polícia Nacional, "é preciso ter muita atenção nas viagens que empreendemos nas vias rodoviárias nacionais, para que cheguemos ao destino ilesos, sem que nada ocorra aos utentes das viaturas, motociclistas e aos peões que circulam na berma das estradas, no meio rural".
A sinistralidade rodoviária está a causar muitos transtornos a milhares de famílias, que perdem os seus entes queridos e sofrem prejuízos materiais enormes. Infelizmente, nas nossas estradas há condutores, principalmente os mais jovens, que pensam que o automóvel ou o motociclo são meios de exibição ou de conquista amorosa. Tentam "dar espectáculo" na malha rodoviária, exercitando acrobacias que, não raras vezes, se transformam em causa de acidentes graves.
"Os jovens querem tirar proveito da potência das suas máquinas nas estradas longas, esquecendo-se que as nossas estradas têm pontos muito críticos, com curvas e contracurvas, buracos e zonas com arbustos altos que diminuem a visibilidade", explicou Pinto Caibambo.

Perigo nas rodovias

As estradas de Angola estão de tal modo perigosas que é preciso ter muita sorte para, nas nossas viagens, chegarmos ilesos ao destino. Com as fortes chuvas que têm caído em quase todo o país, os troços das vias nacionais e urbanas estão a degradar-se a olhos vistos. Quando menos se espera, surge uma cratera onde antes se circulava à vontade, exigindo que as entidades competentes coloquem, oportunamente, os sinais de alerta, para evitar que tais buracos provoquem vítimas. E, melhor ainda, estancar os buracos enquanto é tempo.
A reportagem do Jornal de Angola viajou pelas estradas nacionais número 100 e foi triste ver que entre o Lobito e o Sumbe surgiram vários buracos. Na Canjala, no espaço que compreende o mercado local e o Comando Comunal da Polícia Nacional, "nasceram" buracos que surpreendem qualquer viajante pela negativa. Na via 250, entre o Bocoio e o Balombo estão a surgir, igualmente, novos buracos, que podem dar origem a acidentes. Ainda que pequenos, tendem a crescer devido às intensas chuvas que caem sobre a região e ao grande fluxo de viaturas ligeiras e pesadas. Os dias passam, os buracos aumentam de tamanho e, não tarda, o trânsito vai ficar perigoso e complicado.
José Cabral Sande, empresário do ramo agropecuário na comuna da Canjala, disse que é lamentável o estado em que se encontra o troço no perímetro da sede comunal. "Algo tem de ser feito de imediato para a recuperação do trecho, se não vai deteriorar-se cada vez mais. Mas o pior é que as autoridades da comuna e a Brigada de Trânsito passam por lá e ninguém faz nada", afirmou.
O empresário fala com propriedade, pois passa pelo troço todos os dias, enveredando depois por um troço terciário em estado deplorável até à sua fazenda. "Já começo a ficar com os cabelos em pé. Mesmo que tenha os amortecedores de um blindado, não há carro que aguente tanta pancada. Depois do Executivo ter gasto tanto dinheiro, não consigo compreender o que se passa com as nossas estradas", salientou.
Conduzir pode ser um calvário para alguns, mas com boas rotas e cumprindo as regras do trânsito, as viagens a longa distância ou nos centros urbanos podem ser feitas com maior tranquilidade. Mas é necessário que os automobilistas estejam cientes dos mil e um perigos que podem enfrentar, especialmente nas estradas rurais e remotas. "Se tiverem que viajar no período da noite, devem estar atentos ao longo da via, para não colidirem com o gado que pasta à beira da estrada. É aconselhável circular a uma velocidade que permita controlar o veículo sempre que surja um obstáculo", referiu José Sande. 
Outra ameaça nocturna é a dos veículos de grande porte, com reboques acoplados, e os camiões e autocarros que avariam ao longo da via, sem que o motorista se preocupe em colocar um sinal de indicação de perigo. Alguns motoristas irresponsáveis, por falta de triângulo, colocam pedras ou ramos de árvores para sinalizar a avaria e, quando a superam, retomam a viagem sem retirar os sinais improvisados. 
Os camiões com reboque movimentam-se a alta velocidade e as viaturas ligeiras sentem muita dificuldade em os ultrapassar, uma vez que as nossas estradas nacionais são bastante estreitas. O melhor é ficar atrás deles a uma boa distância, por causa das pedras que se soltam e da pouca visibilidade.

Faltam sinais de trânsito

A sinalização, quando colocada no local certo, tem um efeito dissuasor, com especial acuidade nas zonas em que acontecem mais acidentes ou em que há vários veículos imobilizados em plena faixa de rodagem.
Outro perigo das nossas vias são os maus motoristas, gente que não respeita os limites de velocidade e os sinais de trânsito e faz ultrapassagens em lugares proibidos. Há condutores que, em posse de um camião novo, não respeitam os carros pequenos. 
Os atropelamentos têm uma expressão muito grande no meio urbano. Em Benguela e Lobito, praticamente metade do total das vítimas de acidentes de viação morre dentro das localidades. A ausência de medidas que levem a uma redução da velocidade dos veículos, antes de se aproximarem da passadeira, com ou sem semáforos, é um dos factores que tem provocado acidentes, segundo constatou a reportagem do Jornal de Angola.
A falta de normas técnicas nacionais que definam os requisitos mínimos para uma passagem área, com base em diferentes cenários urbanos, é uma das causas do número elevado de atropelamentos. O exemplo mais acabado disso está na via expresso Lobito/Benguela, onde pessoas idosas, com uma compleição física que já não lhes permite subir as passagens aéreas, se vêem obrigadas a pular as barreiras para alcançarem o outro lado da via.  
A reportagem do Jornal de Angola verificou que as passagens aéreas foram colocadas fora dos locais habituais de circulação dos peões e não têm iluminação pública. Não estando colocados nos locais correctos, as pessoas dificilmente as usam e preferem atravessar a estrada nos pontos habituais, mais perigosos mas de mais fácil acesso para os seus bairros. 

Punição aos infractores


Reina o consenso de que as medidas de fiscalização e prevenção que a Polícia Nacional toma nos feriados e fins-de-semana prolongados deviam ser praticadas todos os dias, incluindo durante a noite. As acções de fiscalização relâmpago, as famosas "operações stop", deviam fazer parte do quotidiano das nossas estradas. Os infractores ao Código de Estrada deviam ser exemplarmente punidos.
Outra medida que podia contribuir para diminuir os acidentes rodoviários é a das inspecções periódicas obrigatórias aos automóveis.
A conhecida falta de cultura de segurança rodoviária, associada à condução perigosa, é transversal a toda a sociedade angolana e não apenas aos jovens. Ao longo da malha rodoviária nacional existem muitas barracas e tabernas que vendem bebidas alcoólicas de modo indiscriminado. Estas pequenas unidades comerciais carecem de uma adequada fiscalização.  
É um contra-senso que depois das estradas serem melhoradas, ocorram acidentes que enlutam centenas, senão milhares, de famílias.
As estradas são um meio de descoberta da beleza paisagística e turística, para além de serem pólos de dinamização económica, social e cultural dos territórios. Daí que nem sempre o objectivo de uma viagem seja chegar cedo e rapidamente. A própria viagem pode ser um objectivo em si mesmo. É importante viajar com comodidade, mas também com a certeza de que se vai chegar são e incólume ao destino.

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