História da Província de Benguela [Parte II]

segunda-feira, 22 de novembro de 2010 |

A VILA DA CATUMBELA
Do soba chamado Quitumbela, derivou o nome do sítio. A água era boa e o clima bastante melhor que o de Benguela, razões que levaram o restaurador de Angola, em 1650, a querer para ali mudar a capital do presídio de Benguela. O grande negócio da Catumbela começou por ser o comércio com o interior, principalmente depois da abertura do caminho para o Bailundo e Bié. O comércio da borracha de segunda, desabrochado a partir de 1888, serviria de impulso a um crescimento febril. Foi um verdadeiro delírio da borracha tudo nadava no género elástico, o dinheiro corria abundante e todo mundo queria ser permutador. As mais importantes casas comerciais estabelecem escritórios em Lisboa, constituem-se muitas sociedades...

Com semelhante evolução, transtornadora, as ligações entre Catumbela e Benguela, servidas por uma estrada dotada de excelentes obras de arte, careciam dum sistema moderno de transporte mais rápido do que o carro de bois e as barcas à vela que percorriam a costa. Daqui nasceu a idéia de uma linha férrea. As duas penúltimas décadas do século XIX podem considerar-se o período do apogeu da Catumbela, servido por factores geográficos especiais, que se relacionavam com a vida comercial com as populações locais. A Catumbela, vila famosa e bonita, é hoje uma terra estacionária. O presente e o futuro, portanto, reatam-lhe as tradições agrícolas que a impuseram, no passado, à atenção dos conquistadores do reino de Benguela que a celebrizaram, como fonte preciosa da abundância, em horas amargas de privações alimentares.
A pitoresca e importante vila comercial e agrícola da Catumbela, sede do Conselho do mesmo nome fica situada na margem direita do rio Catumbela do qual tirou o nome que até hoje conserva, estando localizada a 12º 24' latitude sul e 13º 35' longitude Leste.
Esta distancia-se da baía do Lobito a cerca de 12 Quilómetros.
A vila no passado ficava ao fundo da bacia da Catumbela, no lugar onde o rio se desprende da garganta em que vem correndo apertado, encravada entre o rio que corre a um lado, e os morros por onde desce o "gentio" e os pântanos que ficam na base dos morros, do outro lado.
A vila da Catumbela, foi fundada em 1836, por decreto de D. Maria II, rainha de Portugal.
O nome primitivo com que foi fundada foi de Asseiceira, em comemoração da batalha ganha em Portugal. O nome Catumbela dado mais tarde e até hoje mantém o mesmo nome.
Com o nome de Asseiceira, foi fundada na margem esquerda do rio. Antes desta fundação já existiam indígenas na margem direita do rio.
Estas populações indígenas ocupavam-se com a agricultura, cultivando o milho, feijão, abóbora, batata-doce, cana sacarina, e outros produtos agrícolas e também a criação de gado.
Na margem esquerda, a primitiva população era de Mundombes, que se dedicavam à criação de gado e também à agricultura.
No período da seca, aproveitavam a lagoa do Negrão e os pântanos dos morros da margem direita, para a plantação da batata-doce. Quando estes pântanos se abarrotavam de água, consequência das chuvas abundantes, aproveitavam para nele pescar o peixe aí abundante.
Reza a tradição indígena que o 1º soba e fundador da antiga Catumbela indígena da margem direita foi uma mulher. Nesse período a população indígena correspondia a um elevado número de habitantes, que aos poucos eram dizimados por terríveis doenças como: doença do sono, vinda da Hanha, pela tuberculose e epidemias de varíola, que em 1864 causaram muitas mortes.
O período de 1836 a 1846, foi a 1ª fase da crescente população, o número de habitantes era pequeno, e dedicavam-se ao comércio com a própria gente da terra, que se estendia por ambas as margens do rio. Ainda havia o negócio do chamado "gentio" do interior.
Apenas sob a protecção de um simples chefe, os comerciantes estavam sujeitos a ataques e insultos do "gentio" de Seles, de Cunhula e de Quissange.
Para acudir as populações vítimas desses ataques, o Governador Geral da Província, Pedro Alexandrino da Cunha ordenou, que o "gentio" fosse submetido pelas armas, o que levou a efeito por volta de 1846.
Organizou-se uma expedição composta pelas tripulações dos Brigues Mondego e Tâmega, e da Corveta Relâmpago, comandada pelo chefe Gonçalves Cardoso, que submeteu o "gentio".
Lá mais para os fins desse mesmo ano (1846) foi construída a actual fortaleza da Catumbela (Reducto de S. Pedro), à custa dos habitantes de Benguela sendo hoje um documento histórico.
Um aumento gradual da população sentiu-se no período de 1846 a 1856.
Neste período aparecem os primeiros e intrépidos sertanejos: Silva Porto, Guilherme Gonçalves, Rosquete e outros. Foi porém Silva Porto o 1º Sertanejo europeu que se estabeleceu no Bié, vindo do interior de Luanda, este último que abriu o caminho do Bailundo e Bié para a Catumbela, passando por Quissange.
Antes da abertura com caminho, o "gentio" do Bailundo e Bié não vinha à Catumbela, para aí só iam as comitivas com negócio para Benguela que se aventuravam pelo caminho da Chiaca. Mas o caminho da Chiaca e Ganda era mau, pois essas comitivas eram constantemente assaltadas, roubadas e muitas vezes eram alvos de atrocidades por parte dos assaltantes da região.
Antes destes comerciantes do Bailundo e Bié, chegavam comerciantes das regiões de Quizela, Seles, Cacula e Hanha, que traziam azeite de palma (óleo de palma), urzela, goma, coconote, couros, etc.
Mas havia uma certa insegurança, devido aos assaltos dos Seles e Quissangistas.
No período compreendido entre 1856 e 1864, sob a influência dos Bienos e Bailundos, dá-se a mudança da povoação da margem esquerda para a margem direita. Esses povos traziam os seus produtos, onde uma parte ficava na Catumbela e outra ia para Benguela. A margem direita teve de inicio apenas 6 casas, todas cobertas de capim.
Nesse período começaram a aparecer as primeiras fazendas: S. Pedro, Fazenda Maravilha do Cassequel, Fazenda do Lembeti, todas tendo iniciado a sua actividade com o cultivo do algodão e depois de cana sacarina para fabrico de aguardente.
De 1864 a 1874, iniciou-se (por volta de 1865), com um elevado desenvolvimento, prosperidade e riqueza. As habitações que haviam sido arrasadas pelas inundações de 1964, foram reconstruídas, apesar de ainda estarem cobertas de capim. Neste período aumenta-se a construção de casas.
Até fins deste período os embarques de mercadorias eram feitos por transportes às costas de carregadores, sendo as gamelas de cera transportadas por 4 pessoas, a pau e a corda de Catumbela para a praia, onde então os produtos eram carregados em embarcações a vela que seguiam para Benguela e faziam o transbordo para os paquetes.
A indústria apenas consistia em fornos para fabrico de telhas e tijolos. A agricultura atinge o seu apogeu nesse período.
Também as fazendas produtoras de algodão nessa fase passaram a cultivar cana sacarina para o fabrico da aguardente.
De 1874 a 1886, enquanto a tendência era para a diminuição da população rural, é neste período que aumenta a população urbana.
A partir de 1874, começa a decadência gradual do coconote, ursela, goma e couros secos. Dominam nessa altura outros produtos como o marfim, a cera e a borracha de primeira qualidade, sendo a borracha o produto mais procurado entre as permutas e exportações.
A borracha abre novos horizontes, aviva a cobiça, chama a concorrência e estabelecem-se as rivalidades e os jogos.
O transporte dos produtos da Catumbela para a praia, a partir dessa altura era feito através de carros.
A indústria continuou na mesma, acrescendo apenas a fabrica de cal. Também tentaram fabricar pólvora e sabão, mas foi abandonada essa área por falta de resultados.
Com o comércio da borracha, a Catumbela começa a ser digna rival de Benguela e aumentou a população flutuante, representada pelo "gentio" que trazia o negócio. Também já havia carros para levar os produtos para Benguela.
Em 3 de Janeiro de 1884 é aberta ao serviço público a comunicação telegráfica entre Benguela e Catumbela e estabelecido o serviço telefónico entre os mesmos conselhos.
De 1886 a 1900 foi uma fase que representou para a Catumbela, um desenvolvimento económico, político e social.
O económico, deve-se ao aparecimento da borracha em 1886. O político e social é devido a inúmeras construções de casas, melhoramentos públicos, estabelecimento de escolas régias, estradas, pontes, saneamento da região, estabelecimento de farmácias, etc, etc.
Neste período os preços da borracha, marfim e cera, sobem.
A indústria limita-se às oficinas de cantaria e fornos de cal. Começam a fabricar telhas de Marselha e pelo mosaico em ladrilho, que se importa da Europa.
De pé apenas fica a cal, da qual tudo o resto se começa a importar.
Fizeram-se alguns melhoramentos: foi terminada a construção da estrada que ligava Benguela a Catumbela que havia iniciado em 1883 e concluída em 1889.
Em 1889, é construído o actual cemitério, por José Lourenço Ferreira e de 1890 a 1892 é construído por ele o edifício da câmara onde ficaram instaladas as escolas régias e a igreja. Entre 1894 a 1895 foi construído o paiol da Catumbela.
De 1900 a 1908 viveu-se um período que foi conhecido como o período da decadência económica.
Houve entre 1900 e 1901, uma grande pressão no comércio da borracha.
O "gentio" como estava habituado a ser tão bem pago, não compreendeu que a borracha, produto tão rico, pudesse perder seu valor e sofresse oscilações de preços. Assim a borracha deixou de chegar a Catumbela e Benguela, passando a ser desviada para o Congo Belga.
O marfim neste período desapareceu. A cera e os couros secos, tinham pouco valor, logo eram pouco procurados.
Além desses problemas, a Catumbela sofreu alguns melhoramentos: o estabelecimento de dois hotéis importantes, o Oriental e o Internacional.
A PRIMEIRA PONTE SOBRE O RIO CATUMBELA FOI A PONTE COM O NOME DE “GOMES COELHO” (CAPITÃO – TENENTE GUILHERME GOMES COELHO, GOVERNADOR GERAL E IRMÃO DO ESCRITOR JÚLIO DINIZ), INAUGURADA EM 16 DE OUTUBRO DE 1887 E QUE NO ANO DE 1903 RUIU DEVIDO À CORROSÃO DOS SEUS PILARES. QUANDO COMEÇA A FUNCIONAR O CAMINHO DE FERRO DE BENGUELA (CFB) NO ANO DE 1903 A ESTAÇÃO DA CATUMBELA FICAVA NA MARGEM ESQUERDA DO RIO CATUMBELA JUNTO A ESTA PONTE E ONDE ERAM OS PORTÕES DE ENTRADA DA S.A.C. (SOCIEDADE AGRÍCOLA DO CASSEQUEL CASSEQUEL) E QUE DAVA ACESSO AO AÇÚDE QUE ABASTECIA AS VALAS DE IRRIGAÇÃO PARA OS CANAVIAIS.

NOTA: Os pilares da referida ponte foram feitos na oficina de cantaria de José Lourenço Ferreira (o “Cambambe”), o maior construtor da sua época. Os trabalhos da construção da ponte foram dirigidos pelo Encarregado de Obras da Câmara, Álvaro de Sousa e Castro.

EM 21 DE MARÇO DE 1905 É INAUGURADA PELO GOVERNADOR – GERAL, CONSELHEIRO ANTÓNIO RAMADA CURTO E JUNTO AO FORTE OU “REDUCTO DE S. PEDRO”, A SEGUNDA PONTE EM ESTRUTURA METÁLICA, COM O NOME DE “D. LUIS FILIPE” ,CONSTRUIDA PELA FIRMA “Bridge & Roof Coy Ltd”, DE GLASGOW. ESTA PONTE TINHA A FINALIDADE DE SE FAZER O ATRAVESSAMENTO DO RIO CATUMBELA, FAZENDO O ESCOAMENTO DO TRÁFEGO FERROVIÁRIO E RODOVIÁRIO ENTRE O LOBITO E BENGUELA.
Segundo informações da época, diziam ser a primeira ponte de África e a primeira obra de arte do Caminho de Ferro.
A construção do Caminho de Ferro de Benguela em 1904, foi um dos mais importantes melhoramentos deste período, trazendo a comunicação rápida entre Lobito, Catumbela e Benguela.
Em 1904, o Governador Geral de Angola, o Conselheiro Eduardo da Costa, concedeu plena autonomia à câmara da Catumbela, que até então funcionou sempre ligada a Benguela.
Por decreto de 5 de Junho de 1905, a povoação da Catumbela foi elevada à categoria de vila.
É organizado, por meio de uma comissão, o serviço de fiscalização do imposto do álcool e aguardentes.
Organiza-se também a junta do Concelho de Instrução Pública.
Em 1905 é fundada a Associação Beneficente dos Empregados do Comércio que foi a primeira associação que existiu no descrito que mais tarde, devido a problemas internos sofreu uma dissidência entre os sócios, tendo originado o abandono por parte de alguns que fundarão posteriormente o "Grémio Pro Pátria".
Em 1903, funda-se na Catumbela, uma loja maçónica.
Iniciou-se ainda a construção de uma igreja, de pedra e cal em frente da estrada da Rua Ferreira do Amaral.
Para evitar a falta de higiene na vila, (causadora de grande parte das doenças), a câmara mandou construir um bairro na "Bitula Nova" para acomodar o "gentio" e os carregadores enviados pelos negociantes do interior, que vinham fazer o seu negócio à Catumbela.
Para concluir, podemos dizer que, durante o período compreendido entre 1896 até 1908, a então vila da Catumbela, foi uma zona essencialmente comercial.
Parte da informação aqui descrita foi recolhida de uma Monografia da Catumbela, de 1 de Maio de 1909.
Nota: Esta descrição foi recolhida do site (
http://www.benguela.net/benguela/catumbela.asp), sendo que não é referenciado o autor da Monografia.
Em relação ao texto original, apenas faço referência à construção das pontes até à data em que esta monografia (1909) foi elaborada, que no texto se encontram em letra maiúscula.

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