Festival internacional exibe documentário sobre caminhos-de-ferro de Benguela

domingo, 21 de novembro de 2010 |

O terceiro Festival Internacional de Cinema de Luanda exibiu sexta-feira o documentário "Trilhos culturais de Angola", que narra momentos históricos dos Caminhos-de-Ferro de Benguela (CFB), bem como aspectos culturais desta região do centro-litoral de Angola.

Numa produção da Dread Locks, o documentário de 50 minutos que levou 16 dias de rodagem e seis meses de produção centra a sua acção no troço Lobito/Cubal, dois municípios da província de Benguela, num percurso de aproximadamente 153 quilómetros.

Segundo o produtor do filme, NGuxi dos Santos, citado pela Agência Angola Press (ANGOP), o Trilhos culturais de Angola visa ilustrar uma parte da história do país, de modo a deixar um legado para as gerações vindouras.

Numa primeira fase, o filme mostra o surgimento dos Caminhos-de-Ferro, as suas envolventes históricas, e as perspectivas comerciais que se abriam à sua volta.

Apresenta depoimentos de figuras ligadas aos CFB há mais de 30 anos, entre os quais o condutor de vias Lopes Eugénio, o operário Paulo Candiero, e o administrador Cristiano de Almeida, que deixam uma reflexão sobre o passado dos Caminhos-de-Ferro de Benguela.

O vídeo aborda também os traços da modernidade que se buscam, através do processo de reconstrução nacional e os investimentos que o Governo angolano faz para a recuperação e o desenvolvimento da linha, uma das vítimas maiores das destruições que Angola viveu durante a guerra civil de 1975 a 2002.

O terceiro Festival Internacional de Cinema de Luanda aberto sexta-feira vai decorrer até 26 deste mês, numa promoção do Ministério angolano da Cultura.

De carácter generalista, o evento centra-se na exibição de filmes de longa e curta-metragem de ficção e documentários, podendo, no entanto, albergar outros géneros cinematográficos.

A produção do vídeo sobre os CFB foi patrocinada pela Doc-TV, uma rede que visa apoiar projectos cinematográficos a nível da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Com mil 301 quilómetros no total, desde a cidade portuária do Lobito (Benguela), na costa atlântica, até à vila do Luau, na província oriental do Moxico e junto à fronteira com a República Democrática do Congo (RDC), os CFB têm mais de 100 anos de história.

Única ligação ferroviária da África Central ao Atlântico, a sua construção foi iniciada a 1 de Março de 1903 tendo ficado concluída a 2 de Fevereiro de 1929.

Depois do Luau, ela está ligada aos sistemas ferroviários da RDC e da Zâmbia, a partir da qual é possível chegar às cidades de Beira, em Moçambique, e de Dar es Salaam, na Tanzânia, junto ao oceano Índico.

Faz assim parte de uma linha ferroviária transcontinental, pois também está ligada indirectamente ao sistema ferroviário da África do Sul. Nos seus tempos áureos, os CFB eram o caminho mais curto para transportar as riquezas mineiras da actual RDC (então Zaíre) para a Europa.

Mas o conflito armado que se seguiu à independência proclamada em 1975 desactivou quase completamente a linha, através nomeadamente da sabotagem das suas locomotivas, carruagens e carris e outras infra-estruturas de base, limitando o seu funcionamento a apenas 34 quilómetros até 2001, em Benguela.

O plano de reabilitação lançado após o termo da guerra civil em 2002 prevê a conclusão dos trabalhos de reparação em 2012. O Governo angolano já terá investido até agora cerca um bilião e 800 milhões de dólares americanos na reposição efectiva do corredor Lobito-Luau com recurso a uma linha de crédito da China.

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