Depois de Cabinda, que notificou nove casos de poliomielite em adultos, o fenómeno chegou às províncias de Benguela e Bengo, anunciou, terça-feira, o ministro da Saúde, José Van-Dúnem.
Numa conferência de imprensa no final de uma reunião com os parceiros no combate à poliomielite, o titular da pasta da Saúde frisou que em Benguela foi notificado um caso assim como no Bengo, envolvendo adultos.
José Van-Duném explicou que os casos de pólio foram diagnosticados num jovem de 13 anos, no Bengo, e de 20 anos em Benguela, que nunca foram vacinados contra a doença.
Ainda na província de Benguela foi diagnosticado um caso de pólio numa criança de dois anos que já tinha sete doses de vacinação.
“É necessário chamar a atenção para o comportamento do vírus, que foi variando em quase todo país atingindo pessoas dos seis meses aos cinco anos”, disse, acrescentando que “temos essa informação por consequência do sistema de vigilância epidemiológica que nos permite monitorar se o vírus está a circular através da recolha de casos suspeitos e na recolha de fezes de pessoas com casos suspeitos”, explicou.
O ministro sublinhou que o sistema de vigilância epidemiológica permite ver quais os municípios que têm de relatar casos de paralisia flácida, que podem ser pólio ou não, os indicadores que permitem ver se o sistema é ou não fiável.
“É a qualidade desse sistema de vigilância epidemiológica que permitiu notificar os casos registados em Cabinda e ver que havia um comportamento anormal da doença tendo por isso notificado os casos de Cabinda e todos esses na República do Congo”, disse.
O ministro lamentou o facto dos casos registados em Ponta Negra, República do Congo, terem familiaridade com o vírus que circula no município do Kilamba Kiaxi, em Luanda, numa percentagem de 99 por cento de familiaridade genética, e 98, 90 por cento com o vírus que circula no Icolo e Bengo, província do Bengo.
Para prevenir a doença, o ministro da Saúde disse que é necessário criar imunidade de massa, que significa vacinar todas as crianças para que elas ao falar possam pôr no ar o vírus vacinal que compete com o vírus selvagem.
“Vão perguntar como é que no Congo aconteceu a situação que nós estamos a viver hoje mas a resposta é simples: a República do Congo, por razões ligadas ao conflito armado, ficou muito tempo sem fazer campanhas de vacinação como as realizadas em Angola, tendo, por isso, uma população vulnerável e susceptível, nomeadamente em adultos, que é muito maior que aquela que nós vivemos no país”.
Porque não existiram campanhas como as realizadas em Angola, “não há imunidade de massas, porque a quantidade de crianças a porem vírus vacinal no ar é muito menor que aquelas em que circula o vírus selvagem”, disse o ministro, acrescentando que essa é razão, que do ponto de vista epidemiológico, explica porque razão o surto no Congo teve dimensões e contornos completamente diferentes do que está a ter no nosso país.
“Temos que continuar a vacinar crianças até aos cinco anos em campanhas de vacinação, através da vacinação de rotina. E nas zonas em que o surto atinge proporções como o que aconteceu em Cabinda é preciso vacinar também os adultos pela proximidade que têm com o Congo e pelo movimento de pessoas de um país para o outro”, frisou o ministro da Saúde.
Campanha de imunidade
O país está a preparar duas campanhas de imunidade em massa contra a poliomielite nos dias 2, 3 e 4 de Dezembro próximo e em princípios de Janeiro de 2011 nas províncias de Cabinda, Uíge, Zaire, Luanda, Bengo e Benguela.
O ministro José Van-Duném disse que as campanhas de vacinação são uma resposta ao surto de poliomielite surgido em Cabinda, onde já foi realizada a primeira fase nos dias 12 e 14 de Novembro para toda a população. “Vamos utilizar a vacina monovalente do “tipo um”, na medida em que o vírus que está a circular é do mesmo tipo”, disse José Van-Duném, acrescentando que a segunda fase vai ser em simultâneo nas províncias que fazem fronteira com o Congo, Uíge e Zaire. E também em Luanda, Benguela e Bengo, onde o vírus circula.
“As próximas duas campanhas vão ter dois comportamentos diferentes. na província de Cabinda, como está próximo do Congo e registar casos em adultos, é vacinada toda população. Nas outras províncias vamos continuar a manter a população alvo que são crianças até aos cinco anos”, explicou o ministro José Van-Dúnem.
Para o reforço da campanha, o Ministério da Saúde recebeu dois cheques da Fundação Rotary Internacional e os seus parceiros, sendo um no valor de um 1,374 milhões de dólares.
O ministro da Saúde disse que a vacinação vai continuar nos pontos de entrada em Cabinda e intensificada a vigilância epidemiológica das paralisias flácidas agudas para monitorar o comportamento da doença. José Van-Duném exortou a sociedade a fazer um esforço gigantesco, do ponto de vista de mobilização social, para que todos participem no sentido de vencer o desafio nacional que é a interrupção do vírus da pólio no país.
Medidas contra a doença
O ministro da Saúde apontou o saneamento do meio como uma das medidas para a eficácia da vacina, na medida que um ambiente degradado leva a vacina a perder entre 30 a 40 por cento da sua capacidade vacinal.
“O meio em que haja condições precárias de saneamento e águas faz com que a vacina seja menos eficaz”, sublinhou, apelando para um maior esforço para melhorar o saneamento do meio. “Temos de aumentar o acesso à água potável e educar as pessoas para a lavagem das mãos. Quer dizer que medidas simples de higiene podem potenciar enormemente a eficácia da vacina”, disse.
Neste momento, disse José Van-Duném, “em que temos um surto com a dimensão que tem e a circulação de vírus em várias províncias, é preciso fazer um esforço significativo, aproveitando todas as oportunidades, para travar a circulação do vírus no país”.
Outro elemento importante, para o Ministério da Saúde, é melhorar o estado nutricional.
O ministro da Saúde afirma que se o estado nutricional das pessoas, sobretudo crianças, for bom, a imunidade é boa e as pessoas são menos vulneráveis. “É importante melhorar o estado nutricional das nossas populações”, frisou o ministro, acrescentando que “é necessário melhorar a vacinação através de campanhas, da vacinação de rotina, do saneamento do meio, da higiene pessoal, oferecendo mais água com mais qualidade e fazer com que as pessoas tenham oportunidade de lavar as mãos e melhorar o estado nutricional. Essas são as condições essenciais para nós travarmos a circulação do vírus no nosso país”.
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